terça-feira, 30 de outubro de 2018

touro

uma perna entre outra que dentre ou por cima mais uma,
assim o cru, corpo nu e todas as tentativas de encaixe. 
sinto diante disso, o nada posso dizer.
e por que afinal tanto quero?
sua presença amplia.

encadear sentenças com a ponta de cada palavra. 
é uma confidência solta, mas harmoniosa.
na realidade, está saindo daqui um acontecimento importante.
como uma folha completamente vazia,
de verde. 
tudo o que há: pára de repente.
e recomeça de súbito.

quero dizer do pouco que consigo, 
enquanto o que resta paira no fundo do texto. 

"se eu pretendesse escrever um texto sempre limpo - tiraria o traço"


quinta-feira, 27 de setembro de 2018

mais uma aproximação pro dia em que eu me distancio dos primeiros dias que me aproximei do chão.
sempre escrever nesse ou um dia antes do dia ou um dia após o dia.
coisas que aprimorei porque o tempo até agora tem me afirmado:
essa uma voz é minha,
essa é minha perna rígida,
ostento aqui o meu difícil e como os meus pelos pelo texto deram uma crescida.
me vejo num corpo neutro, talvez um corpo que chegou ao seu limite.
e que agora vai se virando para si mesmo, a ponto da pele se julgar mais flácida e as fendas, e as ranhuras.

não gostaria de tantas palavras sobre a parte que eu sou, aqui é uma tentativa de adensar com essa forma de dizer a parte dura que cabe a vontade.
aqui sou um ser habitando uma escada.

terça-feira, 14 de agosto de 2018

cena para sala 2

(entra no espaço, paredes brancas, chão de taco. a sala expande mais a sua voz, começa o relato:)

- lembrei de quanto tentei olhar dentro dos olhos dele, aquilo era horrível, eu não sabia manter.
a dica da maíra: - " se concentre no brilho dos olhos da pessoa."
mas em qual dos brilhos me concentrar? não consigo olhar para os dois olhos ao mesmo tempo.
percebe como dá pra ver um olhar perdido no olhar de quem olha?
será que se fosse maíra ali no meu lugar... aquele corpo... ela.

estou frio e num deslize transparente.
um objeto seria menos doloroso ali, um objeto sem cheiro ou, que a temperatura não tivesse uma vibração daquela.

olho pro chão, são quatro pés, dois em dois apontados em direção de encontro...

(ela entra no espaço, atravessando por entre a platéia)

- não, eles estavam lado a lado!
- ei, você está vendo aquele homem fazendo batuque com uma mão e coçando a barba com a outra?
- mão esquerda na barba?
- sim!
- não, só ouvindo!
- o som?
- da câmera.

(disparou, quer dizer, registrou a cena como ela estava acontecendo: o homem, braço esquerdo tocando batuque, mão direita... o contrário! parte da platéia se levanta, ocupa a cena que se transforma em uma bula de remédio. o diálogo se mantém:)

- observa esse conjunto de esculturas:
a primeira reação: náusea.
a segunda: vômito.
a terceira: dor lombar.
e a ultima: insônia.
- não seriam muitos efeitos colaterais?
- não, claro que não!
- melhor sentir fome.
- discordo.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

com thiago fernandes

texto
tece
o
tecido
veste
e o fio
conduz.

a lâmina desfaz...
as pregas.
a lâmina desfaz as pregas mal engendradas
por
um
maldito alfaiate da vida.

da vida mal engendradas por um maldito alfaiate:
um deus cansado de coser.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

refluxo

naturalmente construo disfarces,
umas desimportâncias
para tal e tal coisa.

consequentemente isso,
porque não é natural.

me despeço antes do encontro, 
respondo a pergunta que não me fez. 

meio silêncio de lá, 
mudez nudez 
mútuo, estou tenso. 

penso, se me resolvo por mim só. 
aqui meu ronco, tronco, durmo a cama totalmente.
sou uma espécie de desbunde,
um passo torto, amor ímpar.