terça-feira, 18 de dezembro de 2012

leve peso do amor

o amor é levemente pesaroso.
pesa, ao carregar na consciência.
leve, quando o peso na balança.
chumbo é amar
dias, nuvens são o toque dos corpos
ingênuos.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Morangos Silvestres


Caminhei por entre a grama baixa, recentemente aparada, do qual desprendia um aroma nostálgico. Tive receio das lembranças, corriam como um fluido abundante, portando meu corpo nas correntezas embaraçosas. Gritei, queixei-me à situação, temendo o choque contra as pedras que cortavam com facilidade as águas, e com mero empenho, num golpe me faria em partes.  Meu medo foi entrecortado, no momento em que fitei na extensão do rio, o amparo que, outrora, não se edificava no meu saber. O lar, pedaço natal, seio da vida. Ele pairava, elegantemente, sem fissuras nem pesar, o toquei. Como se não bastasse, aprovei aqueles tamanhos lábios, que surgiram à sacada da casa, sua textura, sua cor, aquilo não era de todo novo. De súbito, principiaram a mover-se, iam dizer... Será que iam dizer? Anseio, mais do que saber o que me é previsto nessa mixaria de vida que ainda tenho de fruir, as palavras, que hão de serem proferidas, acaso os lábios vão me dizer a razão da melancolia, do descaso ao... Espere! Ouça! Leia os lábios, começaram a mover-se, não ouço nada, mais alto! Mais alto! Estão se apagando... E o rio fora se tornando turvo, barrento, até perder o ritmo, o fluxo.  Senti algo incomodar-me os ombros, e persistia, quando ouvi meu nome, não podia estar acontecendo. Mais uma vez aquilo não fazia parte do mundo, um algo de mim. Trazendo prontamente as minhas lembranças, onde me perco e ao mesmo tempo me encontro. Hoje sei, finalmente, friamente, do que me componho, e do que são compostas as pes...

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

perturbação

não quero me comprometer, pois compartilharei medos.
o medo, causador, o motivo,
medo mistério, o tenho, oh desagrado.
encontro-os, medos horrendos,
nas superfícies, expostos na mira dos olhos,
nas profundezas, imerso no ignorado

narrá-los, um insulto ao leitor,
apesar disso, uso-os como a roupa,
bebo-os com urgência,
e sinto-os, quando não os quero, quando falsamente forte me faço.

uivos

terça-feira, 9 de outubro de 2012

babel

amanhece na mais escura noite da minha alma
a inconstante, porém clara obrigação da reflexão medonha
se corro para as altas luzes, no final desse oceano
elas se apagam, tornando-se abismos escuros
são chamas consumidas pela minha vaidade

a inexistência da certeza
dos feitos josés
empirismos
habitam a dura doutrina que se segue a vida

secam as veias, os rios
a água do corpo
o brilho dos olhos
as lembranças saltadas
os homens
os sonos seguidos de sonhos
e os quase mortos
como quem escreve tais coisas 

domingo, 30 de setembro de 2012

tenho fei to

andei fugindo de mim, e minha respiração me distraiu, desconcentrou
tentei fechar meus ouvidos as minhas mentiras, mas escorreguei na umidade da minha língua
andei correndo dos meus erros, acabei tropeçando em meu próprio corpo no chão
ergui um muro gigante escondendo meu orgulho que é demais, não mais achei quem deveria
deixei de fazer, deixei de ouvir, deixei de ser, deixei sem poder deixar
achando ser o mais importante da história enquanto não sabia que nem fazia parte dela

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

a cada dia aspiro o tempo

ainda não sei
se é o período, ou eu
caem as folhas, nascem ideais
e ainda sei não
a idade ou eu
morrem sois, morrem nós
fica meu peito, cheio do tempo
leigo, leigo

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

furto frutado

o fruto furtado perde o doce
perde a cor
ganha peso
perde a textura da polpa

o fruto furtado perde o lar
perde o caroço
ganha a água
 perde o gosto na boca

terça-feira, 21 de agosto de 2012

a lembrança da lembrança

era uma fase, uma época. e as coisas se resumiam nas predominantes cores.
os sabores ajustavam-se ao momento, e cada um correspondia a um dia.
minha imaginação, vagava nas coisas novas, e meus olhos investigavam e registravam os contrastes.
tudo o que me apresentava notável adquiria significância, valor.
o que girava, fazia o contorno no mundo.
o que era previamente anunciado, meu corpo ansiava, tornava o estímulo do amanhã.
das lembranças, breves lembranças. dessas coisas me componho.
me lembro do medo, estava onde faltava a luz.
e onde faltava o sono, o insossego.



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

como a água

meu desejo é como a água
reconheço
um toque da gota
bebo

meu desejo é como a água
inconstante

meu desejo é claro, logo apreendido
uma vez concreto, senão impalpável
sacia, aspira
expulsa

meu desejo esgota

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

trazidos pelo vento


a rajada de vento, sopra fria na noite e alcança a minha face, penetra os tecidos de minhas roupas, contrasta meu corpo quente, dando-me a sensação da pele em evidência. espero pela condução, no espaço que não é novidade, mas, o que me excita o fluxo da imaginação é descobrir nas pessoas que o frequentam, o inato viver subjetivo, o que sem dúvidas, o torna um lugar em constante transformação.

evitando a relação do lado esquerdo do meu corpo, com a parede gelada de aço do objeto em movimento em que me encontro, percebo agora nas iluminadas torres que compõem a cidade, tornando-a, a certa distância visual, paisagem densa, abstrata. seria essa natureza* vertical o bucolismo dos poetas contemporâneos?

temo continuar meus pensamentos, como o que me toma o tempo.
temo o descontrole do fato, entregando-me ao ficcional momento. 
percebendo, minha insatisfação crescente ao meu medo consciente.
interrompo-me bruscamente. 
denomino-me, desobediente. 

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

cidadão

correndo, sem medo neste escuro
meus pensamentos, sopram
ventos como na primeira
vez ou outra estou pensando em ser alguém

terça-feira, 31 de julho de 2012

por vários dias

por vários dias, dos reflexos na minha retina, me recordo bem que, procurei meu contexto.
me recordo bem que, por vários dias, procurei meu contexto, dos reflexos na minha retina.
dos reflexos na minha retina, me recordo bem, que procurei meu contexto por vários dias.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

não sei

se escolhi os versos, por serem livres
se escolhi a madrugada, por ser vazia
se escolhi minha memória, que me cerca 
se escolhi um segredo, por ser meu
se escolhi dessa forma, já que é estreita

segunda-feira, 25 de junho de 2012

você vai além do pensamento

não é como o vento
que rápido ou lento
chega, e faz parte
apenas de um momento

mas é como um perfume
dissolvido no tempo
instigando o pensamento
compartilhando tão puro sentimento

terça-feira, 22 de maio de 2012

frio de vespasiano

corri os riscos em minha cidade
eu, o casaco, bicicleta e a consciência
saímos frios, cansados
dispostos às esquinas, vítimas
observados
saímos com destino vago
faltou-nos respeito aos conselhos
dispostos aos comprimentos, parasitas no tempo
ao cansaço ardente no peito
às pernas que empurram os pés
que empurram os pedais
eis nossos motivos
ainda ocultos as camadas
do tempo

quarta-feira, 16 de maio de 2012

partir

assim resolvi, partir
não dessa para outra
mas da outra para essa
uma confusão do querer

assim como se partem as coisas
as partes de uma obra de arte, interpretações
em partes, se grava um filme
as coisas todas, têm fases e faces

minha face não parte
já as fases, são em partes
logo que resolvi partir, surgiu
certou ou errado, um temor em pedaços

todas as partes, são fases
todas as fases, têm faces
em todas as faces, que não partem
surgiu, certo ou errado

um temor em pedaços

sábado, 12 de maio de 2012

o que do que de onde, padeço?

  eles chegaram sem motivos, e com todos os motivos para desencadear meus questionamentos internos. enterraram meu orgulho e coragem, despiram-me,expondo minha tímida nudez ignorante.

  ao passar do que não passou, percebi nas coisas que nunca havia notado, o passado desvendado, outro, o futuro inesperado,se eu ousasse tanto: seria inalcançado, apenas imaginado. (subscrevo)

  então contei os pelos da perna e os filhos de Deus, somando enfim minhas interrogações. errei muito, um tanto. essa de confiar nos instintos remete-me ao fluxo de um rio incerto.

sexta-feira, 2 de março de 2012

algo quando escrevo

algo penso, quando penso algo
algo sinto, quando sinto algo
algo imagino, quando imagino algo
algo falo, quando falo algo
algo sofro, quando sofro algo
algo penso quando sinto, algo imagino quando falo, algo sofro quando algo 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

um caco que cansa, dói

depois da porta: tirar a roupa ou guardar as coisas?
do pensamento: céu de luz, é vida, que cor? 
um barulho: o cansaço em gotas pelo chão
e a cor: vermelho