sexta-feira, 24 de junho de 2016

o cheiro da gente

ser é
ser em medida
da proporção perdida.
da falta ambígua de uma essência.

hoje sou,
mais um
a ser nada, afinal.
é a soma da vontade
nalgum momento
interdita.
é a soma de um
dois
três
corpos, circulantes, numa
cama
pequenamente grande.
enormemente pequena
porque desintegramos.
no teto, além desse,
outros, e por fim
o céu: corre estrelas, fazem um risco
como se fotografado.
enquanto permaneço,
a par de que passo também.
e de tudo, um fragmento: do discurso?
dos pés, das pernas, as mãos, os corpos.
os toques na medida de toques mesmos:
se tocam.
é dissipando a consciência que sou continuado,
à entrega, a dança, a permanência parece reger um fluxo ininterrupto.

da pequena
às grandes mortes.
a noite apertada e longa.
de um lado a parte que me toca, do outro a parte que me toca
do meio a parte que te toca de todos os cantos as partes que se tocam.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

vitrine

no livro de Beauvoir
as belas imagens
são a composição
do grotesco.

no livro do Barthes
o discurso amoroso
é fragmento,
mas do todo, que somos. 

no surrealismo de Buñuel
as camadas de possibilidades
do desconforto
da ironia, ao riso
da insonia, do absurdo
nada mais diz que
tudo.


segunda-feira, 13 de junho de 2016

hoje eu acordei

eu, ou meus olhos
mentem
como pessoa mentia.
certa vez te ver encrava
ou desabrocha em
mim.
abre essa parte machucada:
cicatriz sendo ferida.

posso contar à
medida
não tenho com precisão
essa passagem de tempo.
que comparada à minha existência
é tão efêmera.

mas portanto entre
tanto
eu sou esse querer em
forma de renuncia.
é que sei como é ser
lapidada. vez que
o instrumento é o ruido:
esse legado seu.

Zeus:
estou farta de ser incontínua,
interdita
inesférica.
frouxa, embora disposta
à ostentar esse abismo
destapado
no entre.