terça-feira, 14 de agosto de 2018

cena para sala 2

(entra no espaço, paredes brancas, chão de taco. a sala expande mais a sua voz, começa o relato:)

- lembrei de quanto tentei olhar dentro dos olhos dele, aquilo era horrível, eu não sabia manter.
a dica da maíra: - " se concentre no brilho dos olhos da pessoa."
mas em qual dos brilhos me concentrar? não consigo olhar para os dois olhos ao mesmo tempo.
percebe como dá pra ver um olhar perdido no olhar de quem olha?
será que se fosse maíra ali no meu lugar... aquele corpo... ela.

estou frio e num deslize transparente.
um objeto seria menos doloroso ali, um objeto sem cheiro ou, que a temperatura não tivesse uma vibração daquela.

olho pro chão, são quatro pés, dois em dois apontados em direção de encontro...

(ela entra no espaço, atravessando por entre a platéia)

- não, eles estavam lado a lado!
- ei, você está vendo aquele homem fazendo batuque com uma mão e coçando a barba com a outra?
- mão esquerda na barba?
- sim!
- não, só ouvindo!
- o som?
- da câmera.

(disparou, quer dizer, registrou a cena como ela estava acontecendo: o homem, braço esquerdo tocando batuque, mão direita... o contrário! parte da platéia se levanta, ocupa a cena que se transforma em uma bula de remédio. o diálogo se mantém:)

- observa esse conjunto de esculturas:
a primeira reação: náusea.
a segunda: vômito.
a terceira: dor lombar.
e a ultima: insônia.
- não seriam muitos efeitos colaterais?
- não, claro que não!
- melhor sentir fome.
- discordo.