domingo, 26 de abril de 2015

contracorrente

sair dos teus poros para escorrer-te
saber sabor por sobre seu ser

desejo parar de ter que querer

lanço-te agora ao mar
boto peso no teu corpo
pra afundar

meus olhos ainda percorrem aquelas paredes vazias
cada grão de areia desde a praia ao oceano
cada um de mim é cada ser seu

pronto estou pra escorrer com tu
já que a vida aqui desfalece pois
é hora dessas ruínas nos serem

sair do teu pulso como sangue
saber sabor por sobre seu sim ser

desejo parar de ter que sempre ter que

lanço-te agora ao fim do sem fim, sempre
boto peso no meu peito
pra suspender

meus olhos ainda percorrem aquelas memórias sujas de lindas
cada grão de areia desde a praia até minha casa
cada um de mim é cada ser só

pronto estou pra recolher cada gota salgada
já que a morte aqui nasce pra morrer pois
é hora dessas estruturas ruírem

domingo, 19 de abril de 2015

lugar da casa

o que é a repetição senão o demônio todo de escrever?
a manipulação, a conotação, a mania de complicar,
o falar sobre:
mesa redonda descendo uma rua reta
água esfriando quente em cima da mesa
um quase acontecendo
toque de mãos, troca de olhar, ansiedade de ver e poder

a música tem hora que parece nada, segundo plano
mas outras vezes desenha bem bom, com cor e tudo o lugar e o acontecer

fome de nada, ou de algo que não tem na geladeira ou no armário
a pontadinha
o belisco
o peito em fúria de tanto porvir impossível de interditar
a angústia e a aliviação pela passagem de segundos
desde que nasceu ele nunca deu um segundo se quer
pra mim nesses relógios todos

a cozinha que parou nesse passar
ela toda laranja, depois toda branca, depois vai de novo
ser atualizada

as palavras e as coreografias estão registradas por cima
daquele chão vazio, retocado, infiltrado de tanta água rapada
uma cozinha cheia coisa coisa coisa
de tanta espuma suja
de tanta bolha
de tardes quentes, ainda em telha
a limpeza vã, o tanto que tentei agradar
nada desse tudo está em ruína
só a minha
falta
de
saber
como
é
que
se
diz
o
indizível

sábado, 11 de abril de 2015

cleee

oi, eu fico vazio quando mais preciso ocupar. a gente brinca demais com as palavras, aí vem elas e fazem a coisa do tipo quando a gente quer encontrar algumas delas pra repor pra despor pra inferir e dizer mesmo, pra alcançar um pouco, pra somar ao corpo do outro, um desenho uma mancha, elas somem de mim demais! a sumiçaria está para além sono, está para além eu mesmo, quero dizer que quando quero não posso, quando posso não quero, o momento z é o momento xis na minha vida, o momento xis quando tem seu momento está querendo ser z.
é que agora que você me ligou sua voz me atravessou tanto, ela me ocupa as vezes para além significado, o som o código por si só, é que isso me desperta toda uma acumulação. gosto do tanto que a vida é fluida, continuada, a gente sempre achando que tudo passa e tudo se descompleta, é então que um som seu articulado me recua anos, eu fico circular, tudo reacende, o código é uma linha em que tá tudo amarrado, pontinhos em nó que seguem e eu vejo os desenhos as fotografias os sons os toques as temperaturas o paladar a vergonha a certeza o risco. você é carga vazia de tanto tudo!
um trem nesse interdito me impede tanto de falar claro, sobre esse claro, que claro é? na minha projeção interna consigo ver lá você e eu e a gente bem perfeitamente, a definição que é doida demais da conta, mas se eu quiser mesmo arriscar tá no esquema do fermento, do quente, líquido, esférico, de um morro que subimos pra descer, pra subir, descer rolando, subir cansando, descer devagarinho, oscilação – ousadia! eu atravessaria agora esse tanto de porta frouxa pra encurtar o fio entre nós, tornar abraço tão forte, que arrancaria sua bagagem de gelo derretendo, a gente poria isso no fim do sem fim, o gelo pra lançar fora, derreter no asfalto todo.
se eu soubesse a direção que voz precisa pra furar tudo, pra arrastar o z e aproximar o x na hora h. ou, corre pra cá que vou só sorrir como que quem reflete um futuro próximo. mira meu corpo estranho, mira meus movimentos ridículos juro dançantes, doente, são gestos de afirmação do bem, de que você pode me atravessar quando quiser a hora o lugar a linha o desenho que quiser, que pode e deve correr pra bem distante e voltar que estou por tu, mesmo com muito barro na boca, mesmo no oco, no tronco, mesmo ostentando o deserto que me componho, é que nada me poe do avesso tanto quanto lembrar e saber que escalar o morro e chegar no ponto bom e panorâmico é tão meu e de quem é eu, de tu e de quem é tu, que quando achamos que tá muito liso e escorregadio o chão, a gente se permite ir deslizando pra escalar de novo, braço e perna não faltam, a gente adormece-os na escorregadinha, isso os reaviva numa saltitação, até o pé do morro tem lá sua cor.