segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

idade

o passar do tempo é um perde ganha
foge o controle
ninguém consegue essa coisa
se perde idade, ganha também
tem desejo que some, outros se reinventam

domingo, 27 de outubro de 2013

penelopéia

ventilador que gira é desfluxo, uma travessia que ora vento ora quentura.
aí vem: quando o senso atinge o desconforto seco e fogoso, chega o sopro,
chega o adorno desconstruindo meu incômodo. aí vem: desconforto quente,
adorno refrescante, desconstrução. minha mente fica assim sendo, num processo
que passei a chamar de (des)tecer - astuto é quem engana a memória! 

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

adizer

a meu ver, já não sei o que fazer com o seu
é tanto vir, achar, deixar, completar, assim assim assado
que dentro neu mesmo chega a doer, na tentativa
de achar espaços necessários para tantos achismos

a meu ver, já quis me ausentar, renunciar renunciar
caso eu parar para parar, para pensar no vocês morro de
que dentro neu mesmo vem pintando pouco a pouco uma implosão
de achar espaços desnecessários para tantos achismos

quinta-feira, 2 de maio de 2013

luzes da cidade

ela pensou, só que pensou tudo errado, como sempre faz
e repensou
se empenhou: listarei medos para encará-los um a um! disse, como quem nada diz.
queria achar no meio da vida algumas palavras que lhe foram
que lhe foram essenciais, dessas que ela presumia e nunca dizia
ela sabia que na volta estaria tudo escuro, seria o fim e começo da noite
mas sua presença lhe privaria dos questionamentos
ela sabia que estava ficando estranha e que todos comentavam
ela chorou
cairam-lhe lágrimas dos olhos
seu rosto corou com o choro
e era como se as lágrimas fossem mais uma de suas máscaras
como se o lacrimejar dos olhos, como se
se aquela visão embaçada do choro lhe tornasse permanente a cada lástima
a cada choro um disfarce
e mais uma vez ela estava chorando, chorava em detrimento do choro
doía-lhe saber que chorava como qualquer um
e que qualquer um nunca a veria chorar por dentro
o choro de fora sempre fora comum
o choro de dentro é que lhe esvaziava e lhe enchia
ela se derramava, se colhia, derramava
de novo a visão embaçava, e
por mais bonito que ficasse o bokeh das luzes da cidade
não eram desfechos na vida, inúteis
aquelas luzes nunca iluminaram
nunca
luzes são cegueiras, era a conclusão

sexta-feira, 5 de abril de 2013

olha eu de novo

tentando ser o que acho mais próximo de mim propriamente, eu mesmo.
                                                                    ou,
tão copiadamente, constantemente reinvento o meu discurso: acabo agindo por reflexo, querendo corresponder a outrém. variando assim, de tudo me abstenho.
                                       já não resta deu em mim.

quinta-feira, 14 de março de 2013

certa forma de se contradizer


faço-me objeto,
enquanto
nem
símbolo sou. e cubro-me
do manto
de certezas.
similarmente
a luva o corpo
resguarda.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

o falso retrato


no quarto escuro era o espelho que se via, pelo fio de luz que a falha da cortina permitia.
equilibrando-se na ponta de suas mágoas e encarando o correto objeto.
- olha só, você vai viver mais tempo que eu.
disse isso sabendo sabiamente que era sábia, mas que nada sabiam a seu respeito.
o que Carina encarava não era o reflexo que se via na superfície do vidro, porém a matéria que o compunha, espelho.
- me refletiu todos esses anos tão superficialmente, será assim que me viam? apático!
e morreu, mas como eu não sei.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Orações ao vento


Outro dia, uma moça bonita de cores no cabelo, puxou minha blusa no meio da rua me obrigando a parar e fitar os desenhos que se faziam nela. Na cara da moça, vi tantos rostos, tinha para todos os gostos. Nem sei mais se era bonita, de fato, lembrando aqui, acho que vi nela algum traço de família, da família entre amigos. A boca dela principiou-se a falar umas coisas que passaram diretamente por cima dos meus ombros. Meus ouvidos fizeram de todo esforço para reunir e decodificar, palavras, formadas por sílabas, mas que partindo da boca da moça de cores no cabelo, ocultavam-se fazendo fumaça no ar.
Renunciei o encontro. Só que agora, fico todo eu me lamentando demais. Sobre nada, ao que me deparei,  nem sequer marquei com alguém, mas a moça de cores esteve lá.  Acaso eu, Domingo, sucesso tivesse nesse ultimo, teria decorado o infinito, o intenso dos vocábulos expressos entre tantas existências. Iria me deparar com o tal do sentido, faria-me nota, faria-me vento no tempo, do qual transita portando e desprendendo, colidindo e talhando, o alheio apetite dos viventes.