sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

book of days

meredith monk me socorre
vem me ajudar a soprar esse aperto 
fazendo barulho bom
eu to soprando há dias só coisa velha, muda
vem conduzir minha ventania
fazer exercício com a garganta
vem me ajudar esvaziar o chumbo do peito
movimentar o corpo, sincronizando a voz 
a linha do pensamento a finura da sensação
é muito isso é muita cidade é muito caco
quero teu passo, tua trança 
três mechas, faz trança!
não, eu quero é baiao de dois meredith
preencher lacuna com ar novo e fresco
socorro 

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

aquela vontade de ontem não passou

fernanda esparramada pelo chão
é contradição de estado de ser, do que se doa, do que se retrai
alguém segurando seu coração, você tomando de volta
menina que de três sois, não divide com ninguém um sol se quer
isso eu dizendo besteira, é que tenho seu sol aqui queimando
"Ontem eu super fiquei falando de você rs"
me faz calor desde então, brasa na nuca
não sobe morro, morre de não querer
mas eu, dona sabencia, faço drama, o amor é assim acontecendo
escrevo do nada, de mim 
talvez algo meu do tocante você talvez algo nosso
mas fala mais que quero ouvir, mas fala mais desse seu calor todo
dessa sua piscina, desse seu lado peixe
dessa cor no seu cabelo que cacho demais, que macio 
subo desço ando esqueço, registro desregistro, 
e passarinho cantou? nada!
na cam, na fotografia, na nuvem que vai descendo pros seus lados
na chuva que passa aqui e não chega aí
no envelope preto, pardo, amarelo
nos selos
tudo parece unha, dedo, mãos, braços, corpo inteiro
e passarinho cantou?
de novo esparramando esparramando
passando nessas calçadas todas, nesses morros nessas curvas
nos caules, nas escadas, na distorção que é sua observação sobre a pequena natureza e o horizonte distante de belo horizonte. a gente quer ver! 

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

concreto

hoje furei meu próprio balão, que barriga carregava
aquele que agita sem onda, sem barco, sem balsa, sem lancha
ar que resolve agitar quando mais preciso horizonte, estático
perfurei ele, ar saindo curvando endireitando ocupando entre paredes

a estrutura de concreto, sem teto, a vegetação nela
meu corpo se enquadra nada, se camufla nada
aponto em direções, orientação e complexidade
aponto em vazio, em box, em azulejo oco

desmoronar ar ar ar ar 
movimento da porta com braços, movimento da mesa
e ocupação, e o ar que furei agora na liberdade 
da entrada da saída, a possibilidade da barriga
a onda agora é perdição, de novo o nada estático
e a onda e a balsa e a lancha onde é moleza o todo
o lugar ocupado pelo ar, pela pele, pelo osso: é puro desequilíbrio

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

fuuuuuuuuuuuh

temperatura do sopro, simbolo em sopro
suspiro dos versos
o vento saindo, o sopro na verdade
os lábios,
inspiração, soprando
inspiração, suspiro
sopro ventania seca, suja, abstrata demais pra sentir
vazia demais, tanto quanto meu estomago agora
deslizando, deslizando, vai vento sai grudando parede a fora
sai fazendo fluxo, as ladeiras, os abismos, a onda do mar bravo

te mando por correio

mensagem de quando me sentindo quando querem somente
também faço isso
de quando fico com quereres e acabo sendo unicamente desejo, desleixo é o que fazem
também criarei minha lista de desejos, também recusarei, também serei assim
eu também, só que talvez, só que nem é isso mesmo que gostaria, que quero
corpo tem a ver com escorrer
que tem a ver com derreter
que dissolve
que muta
que eita
sempre sempre acendendo o mesmo fósforo
queimando a mesma parte da língua
soprando a mesma fumaça, pra falar que fumou
repetições voluntarias, sabidas de que são
ai vê a foto e derretimento, gelo quente fervendo
volta ao estado que era, sabem fazer assim
mas eu não.
não sou gelo, não sou líquido, eu também sei fazer mas é que não sou
quando a gente não é fica na borda do ser, na fantasia, na fotografia encenada, na máscara infantil.
quem sai despedaçando não tem dificuldades com se reconfigurar
quem cata do chão sabe onde encaixar
eu meio que me costuro desengonçadamente, aí, como sempre digo e já falei aqui,
ando torto pela cidade toda, todo mundo jogando olhar em mim, e eu nada sutil, nada implícito.
eu também quero catar bocas, braços, pernas, colares, dentes. reconfigurar o eu, agora!
o instante já, de que diz ela, o it.
como desfecho digo vou procurar ja neu mesmo esses pedaços frouxos pra rancar fora e lançar e saltar e empurrar ladeira acima beijos sumi.

domingo, 4 de janeiro de 2015

tu qué limão ou tu qué mate?

esperando a chegada imaginando a partida
a aproximação como um movimento de distanciamento 
mata trazer pensar perceber notar concluir inferir meu desejo, o privado, censurado, intocado, atrasado, camuflado, destroçado - esse fragmento de vontade é implosão sem ruído. 
perceber você, uma banca, um chiclete, umas frutas. 
desço subo, pago quantas vezes, quantas gotas de suor, tudo compensa, tudo escorrendo e a gente migrando temperaturas. 
uma aposta, uma moça, um mergulho, uma piscina do shopping. 
volto ainda vazio, migro assim, guardando mais proutro mais quesse. 
aproximação dois: distanciando, tu vem aqui tu vem aqui tu vem aqui, mais suor, mais gosto, mais desejo ainda mais, mais agradável beleza ainda mais, espuma, mãos, pés pernas paus. cinco minutos e alguns segundos.
nada e tudo, dilema. e sempre a coisa querendo ser coisa sabendo que é coisa já, e que outra coisa nada é além da própria coisa que é. 
tentando lembrar o momento zaz, trocou. ou só recebeu. a tal da hora minuto zaz que te dei e te recebi, que ficou fazendo falta, agora, devolve, manda de volta aos poucos, ta fazendo falta agora. 
foi você lá carregando esse zaz, dava pra ver de longe. 
fechei os olhos, fui seco, fui pensando no zaz, fechei a porta, aiaiai mais piso fora que dentro, que retorno estranho que volta ridícula, que exposição, que preciso de uma mão sua. 
subi descendo, do 9° pro 1°, e volto tentando captar seu cheiro, o rastro. 
cada vez mais me dou conta da palha pegando fogo, zaz, fogo mais que alastrando vai, tem palha nessa vida toda pra queimar até virar pó, só. 
colar da fortuna tem cheiro de vida, tem cheiro de vida tudo que tem cheiro de água de colônia com pele e colar, e cabelos e cor verde neles.