sábado, 9 de dezembro de 2017

teatro 3 turma 1

desconforto calçar teus
sapatos pisar com teus
pés desequilíbrio

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

por onde começar, se é preciso?


estou mudo, e procuro por entre as falas uma forma de dizer essa mudez - a palavra, e perdido na fala porque falta-me, talvez, uma língua sem muros. "a mulher, que podia ser a do sonho de ontem entra e, debruça sobre mim, começa a ler um texto.” - o que me amplifica, quando sinto-me tocado pela sua voz e o movimento simultâneo da escrita-leitura. penso em como dizer, repassar, discorrer sobre as reticências, construir intratextos: a única forma agora de estar em combinação com essa matéria.

a matéria, manta, tecido que não me cobre, mas me penetra em suas fissuras, cria outro agora embora faça parte desse instante já. continuo porque, dada a impossibilidade, “eu nunca mais acabo de levantar a cabeça”, levanto a ponta espalmada da minha vontade, estendo-a num gesto forte, como quem pode tocar o osso da palavra. e atravesso com a  agulha, não afim de me apressar ou entender de que ponto parte o fio, quando a direção e o alvo dessa trama não são mais vibrantes que o percurso traçado pela linha no caminho.

há muito estou nisso, exatamente nesse ponto. aprecio o pouco ocupante do espaço entre as laterais de uma página, e o limite que faz a borda é o lugar de ultrapassagens. eu o admito mesmo desentendendo o fio. aprecio um imenso nada que ocupa minha vontade de entendimento, aprecio a borda, a peça de roupa que do corpo toma forma.

escrevo e leio por fruir, subtrair, abstrair o prazer ou a prática de escrita se é ela o “duplo de viver”, se “a escrita e o medo são incompatíveis”. sabe o olhar menos propositado, esse que vislumbra a paisagem e assim, o registro da figura, antes mesmo da construção da imagem registrada?  - é esse olhar que pulsa, nessa forma desdizer. sabe esse traço chegado à mão, antes da tipografia, o que acompanha o gesto, a respiração da voz saindo do interior de um corpo ? - assim conduzo o olhar sobre essa superfície, a vibração que toma uma página e sua natureza: o papel suave e vegetal.

eu decido, ainda e mais ainda, indefinitivamente, que meu texto é sopro. que vento é o lugar nenhum em que me encontro, e o mesmo que toca todas as partes do meu corpo nu. escrevo a leitura, como quem já tecido amplifica, prossegue o emaranhamento, trança as formas e as páginas: “são estes os átomos do texto, e eu estou em combinação com eles”; como quem se percebe lacuna interdita e encontra no sexo de ler uma efêmera força de des/entendimento, de extensão de um corpo partido, de paralelo, de sensual, figural e fulgor, de saber “em que real se entra”, da liberdade dependente, de não se poder nomear, da “parte do entendimento que desconheço” e da certeza que em conjunto compreendo, de que “o texto era um ser”.

carta para com Llansol,
citações de “Um Falcão no Punho” - Diário 1
                                                    

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

lar

em uma casa, o mundo de um universo menor habita suas memórias.
domicílio:
a experiência de um cômodo cercado de paredes riscadas por um meu nome.
residência:
gesto copiado por espelhamento - que se localizava entre as portas, do quarto e do banheiro.
morada:
em uma casa uma vida pode habitar muitos modos e passagens.
embaraço:
os mesmos pés ganham formatos e tamanhos, transitam os corredores, se molham na água sob a ardósia fria.
gaiola:
enquanto todos os pelos sob a pele se arrepiam debaixo do cobertor, ou da água quente.
habitação:
um gemido ocupa o lugar do grito.
a fome supera o medo, e atravessa um comodo inteiro a meia luz.
mudez:
em uma casa, muitas outras. peças, móveis, chaves, troncos, membros ou próprio composto que é o corpo, caixas com sapatos, e um lugar que abandono e retomo a cada esgotamento. 

terça-feira, 5 de setembro de 2017

8h

desperto em meu próprio acordei,
e de dentro dum dos volumes - um riso. 
e sei com cio de desaber 
que em meu corpo pairam outros.
sabe a cama, ou sabe o ar do quarto fechado
sobre as presenças ocupantes?
(eu não ousaria começar a escrever se soubesse por onde começar)
ele o olho, sobe e desce o pé de manjericão ressecado. 
me acostumei com palavras na ponta da boca,
treinei uma incisão entre a capacidade e a performance. 
o que resta, meu gesto congelado, ainda na cama com
os olhos acordados. 
espremo o sexo rígido contra o colchão:
"difícil imaginar um objeto com nome de coisa"
o peso da sola dos membros tocarão a poeira na madeira, 
sigo, ou preciso, abrir a cortina, deixar a luz arrebentar.
escultura torta no lençol:
um corpo precisa flutuar, outro de uma ponte entre a
luz e a ponta do dedo, outro de peso, 1 palmo de café,
outro de água para as plantas e duas gotas sob os próprios olhos
e outras duas para as narinas.
da ponta da vontade mais uma palavra oca:
alguém.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

geografia circular

isso significa que se nossos olhares se encontrarem
na mesma proporção dos corpos
que dada a enorme geografia escolhem
contornos em comum:
as miras não serão capazes
de camuflar a inexperiência
(ao menos minha)
de se comportar quando vista e enquanto olha,
pelo olhar de registros outros, que agora
simula o vazio, tentando convencer de que
nesse encontro todas as paredes
que dizemos derrubadas, continuam
intactas, e se destruídas,
intactas.

quinta-feira, 15 de junho de 2017

sabes

por este caminho se chega num desvio curtinho
que é quando a boca pronuncia um som
que ao longo do percurso se despe das 
das coisas.
mas o coisa, a algo, 
é e não é, na falta e no que se pospõe. 
olha eu, é:
falei de boca toda cheguei a lugar 
onde os muros são ainda em tijolo. 
abra bem as pestanas e as palmas do corpo: 
assim se chega ao som, e ao som se chega ao seu. 
guarde o.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

retrato de quando eu

te cubro de eternidades
dessas que dissolvem, o tempo.
e juro: sou persistente ao fogo,
resistente ao desejo,
ventania, sou ventania
que faz curva, e leva a palavra pro fim.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

só se abastece de mágica

entre a última grafia e
essa madrugada, não há interrupção.
a recorrência é soño, só.
- coloque-a no meu punho! -
encontramos na colisão, e na certeza de que
eu não tinha separado lugar pra isso, nada:
permanecemos incontros.
sorrio, quando sou atravessado por uma consideração:
- ele não sabe por dentro! -
o que praticamos, ou o que preencheu esses minutos delongados? - sou incapaz
de saber -
apenas que a sua partida é sempre um arremesso, meu olhar te invoca
e te afasta.
- adeus - com efeito, era o que eu sempre quis dizer.
da mochila preta (que pra mim ela sempre sorriu, por ser mistério e concreta)
você retira um envelope, branco, Espesso e denso,
Física também mas não só, não só.
- coloque-a no meu punho! - eu disse.
e foi entre os livros intrometida, por você.
- Fique, fica comigo!
o envelope, que ouso chamar carta, foi engolido entre os papeis.
vez que, muy temprano, me ergui da cama
para investigar até qual seria a intenção real de um soño.
Em que o poema mais lírico,
Se mostre a coisa mais lógica.

*em paralelo à "Trovoa" - Metá Metá

terça-feira, 11 de abril de 2017

espessa nuvem

me pergunto hoje que é
onde eu estou.
até que segundo ou dia, 
continuarei construindo sua 
imagem em cada
pedra no caminho
que faço que droga. 

terça-feira, 4 de abril de 2017

responsabilidade

eu tinha medo de esquecer
o cheiro que acompanha sua pele
em cada sua parte.
la longe sua falta me encosta cá.
micro sentimento
que reverbera na forma que eu me mostro ao mundo.

não sinto falta de nenhuma parte dessa costura, minto.
eu sinto falta do tempo que não soube lhe dar, sinto muito.

cada vez que esqueço, é a condição que me bota nos
olhos a memória.
eu respiro,
pedindo ao ponto de ônibus, ou aquela esquina, ou aquela porta que você costumava parar
(quando me oferecia um punhado, o seu todo) mas peço, quando volto pra casa depois de um dia todo cheio de tudo, olho pro seu canto de me esperar: - por maior compreensão, do desejo interdito! que me foi pouco fermento nessa comida.
socorro. digo, to pra dizer, digo comida azeda, eu quem diz digo, que responsabilidade dizer, diga não. cuidado, eu digo para dizer o que lhe escapa, por outras vozes. digo, seja assim quem segue que vou também, digo sou algo, como você... digamos pois como nada somos.

sábado, 1 de abril de 2017

cisma

sou consumido de mim durante  o tempo do meu consumo.
é que algo me mora comigo - pessoa que diz isso!
que será? me desconheço,pois conjunto este,
que sou se não outro ? estou confuso isso.
inexatamente eu, duvidoso me apareço no espelho que mente
pra mim, ou eu ou mesmo, os olhos de quem vê são
os que roubam e devolvem essa imagem.
se esse vidro reverberasse, no sentido de criar uma fotografia paralela ao
corpo que se apresenta frente a coisa: seria ? qual lhe/me apareceria?
é cópia aquele ali, ele ri. nada me representação.
enquanto o outro que surge está totalmente ou igualmente não, ele está proximamente de uma cor
olha a cor, não. olha o animal que lhe brota na boca num devir sou eu quem sou. me encontrei na história e se asseguro de que, se tem nada quer dizer: cabe imagens leves ou pessoais.


quarta-feira, 29 de março de 2017

recomeça a temporada de soños:

e neste, pegamos o mesmo ônibus,
o vejo num corpo de velho,
que atravessa o corredor.
alguma peça, desvozeada, sai na minha boca
ela cochicha em tom berrante:
-eu te amo.
a porta se abre porque,
estamos bem, justa mente.
é que a porta se abre para você.
seu aspecto quer dizer mais que há voz:
o que nunca compreendi.
um pé seu pé em cada degrau da escada,
a porta se abre.
enquanto eu conservo o gesto disforme:
e você responde com os dentes afiadamente
belos que logo nos veremos novamente.

quarta-feira, 8 de março de 2017

passei a dormir com dois
travesseiros.
hoje pensei: a gente parte um tecido sabendo
da linha
e agulha
para remendo?

estou sem vontade de cozinhar.
também não consegui ainda saber, do que nunca na verdade se sei não estou nada sabido, sabe?
hoje estou cheio de dores no meio, da testa.
no olho direito algo coçando desde acho que uma hora da tarde,
lavei lavei lavei.

o ônibus não passou,
um carro me atropelou, a perna.
foi de leve, dói de leve, mas
será: quando eu falo que não doeu
é porque doeu e eu quero que não doa?
doar, a dor.

e tantas coisas que me saltam aos olhos, como imagens,
na ordem e linha do devir (de quem levanta da cama, a insistência de olhar tudo como nada, cada coisa como coisa e simples coisa, desnomeada e suscetível de qualquer que seja)
podem não ter transmutação pra outros olhares,
as refotografias da fotografia que vejo, daí imagens e mais, seus apetrechos filtricos.
tantas, intensivo e caótico,
é conter né.. mas é que são tantas, se deixar fico o dia inteiro deslizando e deixando
os olhos arderem.




sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

dimensões do diálogo

você é areia movediça quente numa noite extremamente fria e insuportável,
algo que mordo e em cada pedaço um gosto
de desequilíbrio .
assim o fio que nos limita, nos mantém 
arrebenta, e costurar é 
fazer nós.
a corda todas as madrugadas antes de dormir 
estou extraordinário,
afirmo pra ver se te apreende o meu não sou. 
sinto falta de cada vez que nunca estivemos tão unidas, feliz demais viu?
nunca vi dor no peito tão boa, pássaro parado
em chumbo. 
o tecido é de mundo
a mancha é de café. 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

vende-se

na esquina da tamóios com rua da bahia
bem em frente ao ponto de onibus
tem uma loja de coisinhas variadas, roupas brinquedos material escolar.
um moço que trabalha lá
cada vez me aparece na porta com seus produtos
apropriados no próprio corpo, perde identidadade idade e se é o que se propõe. 
algo de fantasioso mesmo
e o corpo também se monta
ele performa aquilo 
ali, e a proposta é comercial, ao vivo.
vez ou outra alguma criança 
ou pessoa mais de idade
olha pra figura, que também sorri,
a figura aponta
na direção do objeto
na direção do corpo que traduz a intenção
ou qualquer que seja. não posso sair também afirmando demais
eu penso as vezes em pegar ônibus por lá: pela distração

o que tem de bonito nisso: nada
talvez as cores dos penduricalhos etiquetados na china
ou a coisa mundo que move, compra vende
penso se é escape, pelas possibilidades de ser
será?
a meta que precisa ser cumprida todos os meses
seria?
agora ele me aparece com um garfo de três dentes
do diabo
e acende vermelho
ri. 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

rastro essa luz

eu vou sair daqui,
é capaz que me encontrem numa dessas ruas caminhadas dos meus pés.
me perguntaram se é por motivo de cansaço:
me doem algumas coisas embora eu não entenda como cansaço.
estou cansado!
mãe: eu brincava tanto e pedia mais tempo naquele bairro perigoso onde eu cresci
e ostentava meus esconderijos secretos, redundância semântica à infância praticamente suicida.

viver, e estar apaixonado pela seja qual for coisa - não é por motivo de cansaço.
não aceito ter que sair de um hábito para só assim enxergar uma foto na vida.
uma espécie de colher nadas, assim é um artista mesmo, quando coisa.
não aceito quem não reinventa a própria sede. na verdade, eu só não compreendo.

anuncio o concreto que soma ao céu num limite muito sutil, se registro já perco, não tem lógica nisso. eu não sei se aproprio, é que toda essa significação saltita até quando procuro atalhos ocos, quando faço percussos calejados dessas ruas caminhadas dos meus pés...

queria desgarrar esse olhar torto de ver a vida, até perceber que é ele que me mantém viva.
e eu vou sair daqui provavelmente num deslocamento de quem adentra, outra e mais outro instante já. dizer que se vai é ir na direção circulada, redesenha a marca da pegada na poeira, o grão, escurece na luz, que aquece a lâmina de fazer imagem nossa que bobeira é essa

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

não sei se sinto falta ou ar demais

deformo-me num ano novo
de muito nadas.
hoje olhei a folha seca no chão em
meio a tantas outras
folhas. 
minha superfície se desmancha.
do estado em que me encontro: o vão vai, 
vai ser meu!
mais um tempo em que se medem
na tentativa de limitar
e poder ultrapassar os próprios limites: 
será assim que se faz subversão?
pensei mais sobre essa de mexer nos significados: até que ponto
te meto uma vírgula?