quinta-feira, 2 de maio de 2013

luzes da cidade

ela pensou, só que pensou tudo errado, como sempre faz
e repensou
se empenhou: listarei medos para encará-los um a um! disse, como quem nada diz.
queria achar no meio da vida algumas palavras que lhe foram
que lhe foram essenciais, dessas que ela presumia e nunca dizia
ela sabia que na volta estaria tudo escuro, seria o fim e começo da noite
mas sua presença lhe privaria dos questionamentos
ela sabia que estava ficando estranha e que todos comentavam
ela chorou
cairam-lhe lágrimas dos olhos
seu rosto corou com o choro
e era como se as lágrimas fossem mais uma de suas máscaras
como se o lacrimejar dos olhos, como se
se aquela visão embaçada do choro lhe tornasse permanente a cada lástima
a cada choro um disfarce
e mais uma vez ela estava chorando, chorava em detrimento do choro
doía-lhe saber que chorava como qualquer um
e que qualquer um nunca a veria chorar por dentro
o choro de fora sempre fora comum
o choro de dentro é que lhe esvaziava e lhe enchia
ela se derramava, se colhia, derramava
de novo a visão embaçava, e
por mais bonito que ficasse o bokeh das luzes da cidade
não eram desfechos na vida, inúteis
aquelas luzes nunca iluminaram
nunca
luzes são cegueiras, era a conclusão

Um comentário:

Andante disse...

Tocante, mentalizei a cena e me doeu nos ossos.